segunda-feira, 21 de março de 2011





Fim 
 Quando eu morrer batam em latas, Rompam aos saltos e aos pinotes, Façam estalar no ar chicotes, Chamem palhaços e acrobatas!  Que o meu caixão vá sobre um burro Ajaezado à andaluza... A um morto nada se recusa, Eu quero por força ir de burro.                         Mário de Sá Carneiro

O Pajem 
 Sozinho de brancura, eu vago --- Asa De rendas que entre cardos só flutua... --- Triste de Mim, que vim de Alma prà rua, E nunca a poderei deixar em casa...                        Mário de Sá-Carneiro

              Epígrafe  
   A sala do castelo é deserta e espelhada.   Tenho medo de Mim. Quem sou? De onde cheguei?... Aqui, tudo já foi... Em sombra estilizada, A cor morreu --- e até o ar é uma ruína... Vem de Outro tempo a luz que me ilumina --- Um som opaco me dilui em Rei...                        Mário de Sá-Carneiro

Álcool  
Guilhotinas, pelouros e castelos Resvalam longemente em procissão; Volteiam-me crepúsculos amarelos, Mordidos, doentios de roxidão.  Batem asas de auréola aos meus ouvidos, Grifam-me sons de cor e de perfumes, Ferem-me os olhos turbilhões de gumes, Descem-me a alma, sangram-me os sentidos.  Respiro-me no ar que ao longe vem, Da luz que me ilumina participo; Quero reunir-me, e todo me dissipo --- Luto, estrebucho... Em vão! Silvo pra além...  Corro em volta de mim sem me encontrar... Tudo oscila e se abate como espuma... Um disco de oiro surge a voltear... Fecho os meus olhos com pavor da bruma...  Que droga foi a que me inoculei? Ópio de inferno em vez de paraíso?... Que sortilégio a mim próprio lancei? Como é que em dor genial eu me eternizo?  Nem ópio nem morfina. O que me ardeu, Foi álcool mais raro e penetrante: É só de mim que ando delirante --- Manhã tão forte que me anoiteceu.                         Mário de Sá-Carneiro  

-NO PALCO-

Um comentário:

Fred Caju disse...

Faz tempo que não leio nada desse homem.