quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Glória


Florescimentos e florescimentos!

Glória às estrelas, glória às aves, glória

À natureza! Que a minh'alma flórea

Em mais flores flori de sentimentos.

Glória ao Deus invisível dos nevoentos

Espaços! glória à lua merencória,

Glória à esfera dos sonhos, à ilusória

Esfera dos profundos pensamentos.

Glória ao céu, glória à terra, glória ao mundo!

Todo o meu ser é roseiral fecundo

De grandes rosas de divino brilho.

Almas que floresceis no Amor eterno!

Vinde gozar comigo este falerno,

Esta emoção de ver nascer um filho!


(Cruz e Souza)

-NO PALCO-

segunda-feira, 27 de setembro de 2010


Saudade

Belos amores perdidos,
Muito fiz eu com perder-vos;
Deixar-vos, sim: esquecervos
Fora demais, não o fiz.

Tudo se arranca do seio,
— Amor, desejo, esperança...
Só não se arranca a lembrança
De quando se foi feliz.

Roseira cheia de rosas,
Roseira cheia de espinhos,
Que eu deixei pelos caminhos,
Aberta em flor, e parti:

Por me não perder, perdi-te:
Mas mal posso assegurar-me,
— Com te perder e ganhar-me,
Se ganhei, ou se perdi...

(Vicente de Carvalho)


-NO PALCO-

domingo, 26 de setembro de 2010


Já Bocage não sou!... À cova escura

Meu estro vai parar desfeito em vento...

Eu aos céus ultrajei! O meu tormento

Leve me torne sempre a terra dura.


Conheço agora já quão vã figura

Em prosa e verso fez meu louco intento.

Musa!... Tivera algum merecimento,

Se um raio da razão seguisse, pura!


Eu me arrependo; a língua quase fria

Brade em alto pregão à mocidade,

Que atrás do som fantástico corria:


Outro Aretino fui... A santidade

Manchei!... Oh! Se me creste, gente ímpia,

Rasga meus versos, crê na eternidade!

''Bocage''

Fiei-me nos sorrisos da ventura,
Em mimos feminis, como fui louco!
Vi raiar o prazer; porém tão pouco
Momentâneo relâmpago não dura:

No meio agora desta selva escura,
Dentro deste penedo húmido e ouco,
Pareço, até no tom lúgubre, e rouco
Triste sombra a carpir na sepultura:

Que estância para mim tão própria é esta!
Causais-me um doce, e fúnebre transporte,
Áridos matos, lôbrega floresta!

Ah! não me roubou tudo a negra sorte:
Inda tenho este abrigo, inda me resta
O pranto, a queixa, a solidão e a morte.

''Bocage''

-NO PALCO-

sábado, 25 de setembro de 2010


''Muito pouco ama, quem com palavras pode expressar quanto muito ama.''

Dante Alighieri

Dante Alighieri (*Maio ou Junho de 1265 - †13 ou 14 de Setembro de 1321) é considerado por grande parte dos italianos como o seu poeta maior. Escritor italiano.
-NO PALCO-

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Baú do ilusório

Não percam em Novembro A Biblioteca Pública de Igaraçu traz para você a estréia do Artista Plástico Marcone Santos com a exposição Baú do ilusório
Em breve data em que a exposição será iniciada.




-NO PALCO-

sábado, 18 de setembro de 2010


  • "Uma das maiores bênçãos do mundo, creio eu, é a incapacidade da mente humana em correlacionar todos os seus conhecimentos".

"Não está morto o que eternamente jaz inanimado, e em estranhas realidades até a morte pode morrer."


- H. P. Lovecraft -


-NO PALCO-

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Provença : Motz e L. Son


contra uma luz
sem falha

o olho
se esmeralda

o olho
(contra uma luz
sem falha)
se esmigalha

o olho de esmeralda
à luz: migalha

(que esmigalha)

e concrescia a luz
som de cigarra.

Haroldo de Campos




-NO PALCO-

Limão, tesão e dor de cabeça


Nada, nada ali...

Só Iza ouvindo o fim:

Analgésicos e caipirinha.

D.Everson/ Bezerros 05 09 2010

OBS: Os fatos à cima são baseados num namoro mal fadado que há pouco tempo se desfez.

-NO PALCO-

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Sintaxe À Vontade

O Teatro Mágico

Sem horas e sem dores
Respeitável público pagão
a partir de sempre
toda cura pertence a nós
toda resposta e dúvida
todo sujeito é livre para conjugar o verbo que quiser
todo verbo é livre para ser direto e indireto
nenhum predicado será prejudicado
nem tampouco a vírgula, nem a crase nem a frase e ponto final!
afinal, a má gramática da vida nos põe entre pausas, entre vírgulas
e estar entre vírgulas pode ser aposto
e eu aposto o oposto que vou cativar a todos
sendo apenas um sujeito simples
um sujeito e sua oração
sua pressa e sua verdade,sua fé
que a regência da paz sirva a todos nós... cegos ou não
que enxerguemos o fato
de termos acessórios para nossa oração
separados ou adjuntos, nominais ou não
façamos parte do contexto da crônica
e de todas as capas de edição especial
sejamos também o anúncio da contra-capa
mas ser a capa e ser contra-capa
é a beleza da contradição
é negar a si mesmo
e negar a si mesmo
pode ser também encontrar-se com Deus
com o teu Deus
Sem horas e sem dores
Que nesse encontro que acontece agora
cada um possa se encontrar no outro
até porque...

tem horas que a gente se pergunta...
por que é que não se junta
tudo numa coisa só?

( Fernando Anitelli)

-NO PALCO-

Os Buracos do Espelho


o buraco do espelho está fechado

agora eu tenho que ficar aqui

com um olho aberto, outro acordado

no lado de lá onde eu caí



pro lado de cá não tem acesso

mesmo que me chamem pelo nome

mesmo que admitam meu regresso

toda vez que eu vou a porta some



a janela some na parede

a palavra de água se dissolve

na palavra sede, a boca cede

antes de falar, e não se ouve



já tentei dormir a noite inteira

quatro, cinco, seis da madrugada

vou ficar ali nessa cadeira

uma orelha alerta, outra ligada



o buraco do espelho está fechado

agora eu tenho que ficar agora

fui pelo abandono abandonado

aqui dentro do lado de fora

-NO PALCO-
Arnaldo Antunes

domingo, 5 de setembro de 2010

GERREIROS DO UNO

Lutemos Guerreiros do UNO,
Louvemos o fim da casta postura imutável.
Armas em punho Guerreiros do UNO,
Uma pena, um papiro e palavras como escudo.
Não matem Guerreiros do UNO,
Não combatemos inimigos,
Mas a ideologia alienista da razão que apodrece.

Não há destino Guerreiros do UNO,
Só a vaga lembrança do presente que fará de seu futuro metamorfo.
Não existe morte Guerreiros do UNO,
Apenas a transcedência do Gurreiro apodrecido.
Coragem Guerreiros do UNO,
De armas na mão venceremos este VERSO.

-NO PALCO-
Wagner Mopho
MISTÉRIO

Gosto de ti, ó chuva, nos beirados,
Dizendo coisas que ninguém entende!
Da tua cantilena se desprende
Um sonho de magia e de pecados.

Dos teus pálidos dedos delicados
Uma alada canção palpita e ascende,
Frases que a nossa boca não aprende,
Murmúrios por caminhos desolados.

Pelo meu rosto branco, sempre frio,
Fazes passar o lúgubre arrepio
Das sensações estranhas, dolorosas…

Talvez um dia entenda o teu mistério…
Quando, inerte, na paz do cemitério,
O meu corpo matar a fome às rosas!

-NO PALCO-

Florbela Espanca - Charneca em Flor

sábado, 4 de setembro de 2010


Todas Elas Juntas Num Só Ser

Não canto mais Babete nem Domingas
Nem Xica nem Tereza, de Benjor;

Nem Drão nem Flora, do baiano Gil;
Nem Ana nem Luiza, do maior;

Já não homenageio Januária,

Joana, Ana, Bárbara, de Chico;

Nem Yoko, a nipônica de Lennon;
Nem a cabocla, de Tinoco e de Tonico;

Nem a tigreza nem a Vera gata
Nem a branquinha, de Caetano;
Nem mesmo a linda flor de Luiz Gonzaga,
Rosinha, do sertão pernambucano;
Nem Risoflora, a flor de Chico Science,
Nenhuma continua nos meus planos.
Nem Kátia Flávia, de Fausto Fawcett;

Nem Anna Júlia do Los Hermanos.

Só você,
Hoje eu canto só você;
Só você,
Que eu quero porque quero, por querer.

Não canto de Melô Pérola Negra;
De Brown e Hebert, uma brasileira;
De Ari, nem a baiana nem Maria,
Nem a Iaiá também, nem minha faceira;
De Dorival, nem Dora nem Marina
Nem a morena de Itapoã;
Divina garota de Ipanema,
Nem Iracema, de Adoniran.

De Jackson do Pandeiro, nem Cremilda;

De Michael Jackson, nem a Billie Jean;

De Jimi Hendrix, nem a doce Angel;
Nem Ângela nem Lígia, de Jobim;

Nem Lia, Lily Braun nem Beatriz,

Das doze deusas de Edu e Chico;
Até das trinta Leilas de Donato,
E de Leila, de Clapton, eu abdico.

Só você,
Canto e toco só você;
Só você,
Que nem você ninguém mais pode haver.

Nem a namoradinha de um amigo
E nem a amada amante de Roberto;
E nem Michelle-me-belle, do beattle Paul;
Nem Isabel - Bebel - de João Gilberto;

E nem B.B., la femme de Serge Gainsbourg;
Nem, de Totó, na malafemmená;
Nem a Iaiá de Zeca Pagodinho;
Nem a mulata mulatinha de Lalá;

E nem a carioca de Vinícius
E nem a tropicana de Alceu
E nem a escurinha de Geraldo
E nem a pastorinha de Noel
E nem a namorada de Carlinhos
E nem a superstar do Tremendão
E nem a malaguenha de Lecuona
E nem a popozuda do Tigrão

Só você,
Hoje elejo e elogio só você,
Só você,
Que nem você não há nem quem nem quê.

De Haroldo Lobo com Wilson Batista,
De Mário Lago e Ataulfo Alves,
Não canto nem Emília nem Amélia,
Nenhuma tem meus vivas! E meus salves!
E nem Angie, do stone Mick Jagger;
E nem Roxanne, de Sting, do Police;
E nem a mina do mamona Dinho
E nem as mina – pá! - do mano Xiz!

Loira de Hervê e loira do É O Tchan,
Lôra de Gabriel, o Pensador;
Laura de Mercer, Laura de Braguinha,
Laura de Daniel, o trovador;
Ana do Rei e Ana de Djavan,

Ana do outro rei, o do baião

Nenhuma delas hoje cantarei:
Só outra reina no meu coração.

Só você,
Rainha aqui é só você,
Só você,
A musa dentre as musas de A a Z.

Se um dia me surgisse uma moça
Dessas que com seus dotes e seus dons,
Inspira parte dos compositores
Na arte das palavras e dos sons,
Tal como Madallene, de Jacques Brel,
Ou como Madalena, de Martinho;
Ou Mabellene e a sixteen de Chuck Berry,
E a manequim do tímido Paulinho;

Ou como, de Caymmi, a moça prosa
E a musa inspiradora Doralice;
Se me surgisse uma moça dessas.
Confesso que eu talvez não resistisse;
Mas, veja bem, meu bem, minha querida;
Isso seria só por uma vez,
Uma vez só em toda a minha vida!
Ou talvez duas... mas não mais que três...

Só você...
Mais que tudo é só você;
Só você...
As coisas mais queridas você é:

Você pra mim é o sol da minha noite;
É como a rosa, luz de Pixinguinha;
É como a estrela pura aparecida,
A estrela a refulgir, do Poetinha;
Você, ó flor, é como a nuvem calma
No céu da alma de Luiz Vieira;
Você é como a luz do sol da vida
De Steve Wonder, ó minha parceira.

Você é pra mim e o meu amor,
Crescendo como mato em campos vastos,
Mais que a gatinha para Erasmo Carlos;
Mais que a cigana pra Ronaldo bastos;
Mais que a divina dama pra Cartola;
Que a domna pra Ventadorn, Bernart;
Que a honey baby pra Waly Salomão
E a funny valentine pra Lorenz Hart.

Só você,
Mais que tudo e todas, é só você;
Só você,
Que é todas elas juntas num só se
r

Lenine

-No Palco-