domingo, 24 de outubro de 2010


"Eu quero lutar com minha caneta.

Eu lutaria através da força, com uma arma,
mas assim teria de matar outras pessoas.

Não quero fazer isso,
mesmo que não sejam pessoas boas.

Elas não precisam ser mortas,
precisam aprender a tornar-se humanas"


(Marina, mulher afegã, no livro "Mulheres de Cabul)

-NO PALCO-

sábado, 23 de outubro de 2010

LORELEI




Não existe nenhuma noite para nos afogarmos:
lua cheia, um rio correndo
negro sob um suave reflexo de espelho.

névoas azuis da água gotejando
de malha para malha como redes de pesca
embora os pescadores durmam.

torres sólidas do castelo
multiplicando-se num espelho
todo ele silêncio. Mas estas formas flutuam

em minha direcção, peturbando o rosto
da quietude. Do nadir
erguem os seus membros plenos

de opulência, cabelos mais pesados
que o mármore esculpido. Cantam
um mundo mais cheio e límpido

do que aquele que existe. Irmãs, a vossa canção
traz uma carga demasiado pesada
para ser escutada pelas espirais do ouvido,

aqui, num país onde um sensato
senhor governa equilibradamente.
Ao serem perturbadas pela harmonia

que existe além da ordem deste mundo,
as vossas vozes fazem um cerco. Estais alojadas
nos recifes em declive do pesadelo,

prometendo um abrigo certo;
de dia, estendem-se para além dos limites
da inércia, das saliências

que existem também nas altas janelas. Pior
ainda que esta canção de enlouquecer
é o vosso silêncio. Na origem

do apelo do vosso coração gelado
- a embriaguez das grandes profundezas.
Ó rio, como vejo serem arrastadas

lá no fundo do teu curso de prata,
aquelas grandes deusas da paz.
Pedra, pedra, leva-me lá para baixo.

(Sylvia Plath)

-NO PALCO-

DESTES PENHASCOS FEZ A NATUREZA...




Destes penhascos fez a natureza
O berço, em que nasci: oh quem cuidara,
Que entre penhas tão duras se criara
Uma alma terna, um peito sem dureza!

Amor, que vence os tigres, por empresa
Tomou logo render-me; ele declara
Contra o meu coração guerra tão rara,
Que não me foi bastante a fortaleza.

Por mais que eu mesmo conhecesse o dano,
A que dava ocasião minha brandura,
Nunca pude fugir ao cego engano:

Vós, que ostentais a condição mais dura,
Temei, penhas, temei; que Amor tirano,
Onde há mais resistência, mais se apura.

(Cláudio Manuel da Costa)

-NO PALCO-

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

HAIKAI 1°

peixinho se esconde
entre plantinhas aquáticas
marzinho de vidro

(Mariluxa)


-NO PALCO-

Mandei a palavra rimar,
ela não me obedeceu.
Falou em mar, em céu, em rosa,
em grego, em silêncio, em prosa.
Parecia fora de si,
a sílaba silenciosa.

Mandei a frase sonhar,
e ela se foi num labirinto.
Fazer poesia, eu sinto, apenas isso.
Dar ordens a um exército,
para conquistar um império extinto.

Paulo Leminski (Desencontrário)


-NO PALCO-

domingo, 17 de outubro de 2010

Poesia ''As moscas''

se


Se minha espada
Fosse convencional,
Mataria dragões
Que habitam corações.

Mas se uma tal fera
Um dia ousasse
Pertinho de minhas
Três ninfas
Se aproximar;

Ai do dragão que se nele
Existir alma, espírito e coração maligno,
De tudo isso sequer o pó infame sobraria.

Me erguerei
Mais alto que o firmamento
Exumarei do fundo do mar
O poder bélico de guerreiros ancestrais.

Ai do dragão!
Que se nele existir;
Alma e coração maligno,
De tudo, desse escamoso eu retirarei.


Tal feito, se tornaria conhecido
Desde o passado à raças futuras,
A íra torrencial derramada sobre tal fera,
Que de seus pecados seriam absolvidos,
Pela doação de minha própria vida,
Por tal força compreendida a centelha impulsionada.

Jaz agora um bicho morto acompanhado do seu vilão!

(Marcone Jimmy)

-NO PALCO-

Haikai 31°

balançam as árvores
em tempestade de vento
no quintal de casa

(Mariluxa)


-NO PALCO-

Poema que Aconteceu



Nenhum desejo neste domingo
nenhum problema nesta vida
o mundo parou de repente
os homens ficaram calados
domingo sem fim nem começo.

A mão que escreve este poema
não sabe o que está escrevendo
mas é possível que se soubesse
nem ligasse.

(Drika)
-NO PALCO-

terça-feira, 12 de outubro de 2010


O meu impossível


Minh'alma ardente é uma fogueira acesa,
É um brasido enorme a crepitar!
Ânsia de procurar sem encontrar
A chama onde queimar uma incerteza!


Tudo é vago e incompleto! E o que mais pesa
É nada ser perfeito. É deslumbrar
A noite tormentosa até cegar,
E tudo ser em vão! Deus, que tristeza!...


Aos meus irmãos na dor já disse tudo
E não me compreenderam!... Vão e mudo
Foi tudo o que entendi e o que pressinto...


Mas se eu pudesse a mágoa que em mim chora
Contar, não a chorava como agora,
Irmãos, não a sentia como a sinto!...

Florbela Espanca

-NO PALCO-

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

40 anos da morte de Janis Joplin


Janis Lyn Joplin -Port Arthur, 19 de janeiro de 1943 - Los Angeles, 4 de outubro de 1970, foi uma cantora e compositora estadunidense. Tornou-se conhecida no final dos anos 60 como vocalista da banda Big Brother and the Holding Company, e posteriormente como artista solo.

''Posso não durar tanto quanto as outras cantoras, mas sei que posso destruir-me agora se me preocupar demais com o amanhã.''

Janis Joplin.

-NO PALCO-