por ROSTAND PARAÍSO*
Durante o domínio holandês em Pernambuco, anos 1630 a 1654, num
grande descampado, onde hoje se encontra a Matriz de Santo Antônio,
construiu-se um depósito de material bélico, principalmente de munições,
chamado de Casa da Pólvora. No seu entorno foram sendo erguidas algumas
casas residenciais, e, dentro em pouco, já se esboçava, entre elas - a
princípio, um mero caminho -, o espaço que ficaria conhecido como a Rua
Nova da Casa da Pólvora.
Em 1752, pelo perigo que representava para um núcleo residencial já de
certa importância, inclusive com algumas casas comerciais nos pavimentos
térreos, a Casa da Pólvora foi transferida para outro local e a rua
passou a ser conhecida como a Rua Nova de Santo Antônio, com o tempo
abreviada para, simplesmente, Rua Nova.
Ela teve outros nomes: em 1870, foi batizada, pela Câmara Municipal,
como Rua do Barão da Vitória (José Joaquim Coelho), um dos valentes
soldados do nosso exército, que se destacara durante a guerra do
Paraguai. Após o assassinato de João Pessoa, presidente da Paraíba,
ocorrido a 26 de julho de 1930, no interior da Confeitaria Glória, ali
localizada, aquela rua, pelo decreto de nº 143, de 10 de outubro daquele
mesmo ano, assinado pelo então prefeito, o dr. Lauro Borba, passou a
ser chamada Rua João Pessoa. Nenhum dos novos nomes caiu, porém, no
gosto popular e ela continuou a ser conhecida como Rua Nova, esse nome
sendo, finalmente, oficializado, por lei municipal, no ano de 1937.
Desde os seus primórdios, a Rua Nova era o local onde se abrigava o
comércio mais fino da cidade, sempre freqüentado pela elite de nossa
sociedade. Rua para onde afluíam todos os recifenses, era inevitável
que, ao longo dos anos, ali ocorressem alguns desastres e crimes de
morte.
A primeira grande tragédia da Rua Nova teria sido o emparedamento, pelo
tresloucado pai, de uma jovem engravidada pelo namorado. Fato realmente
acontecido, pura ficção ou um misto de ficção e realidade? Tudo parece
ter sido um simples boato, nunca comprovado pelas investigações
efetuadas pela polícia, e foi em cima desse boato, que Carneiro Vilela
construiu a trama do seu mais famoso livro, A Emparedada da Rua Nova,
considerado um dos grandes romances pernambucanos. De passagem, diga-se
que Carneiro Vilela foi um dos fundadores da nossa hoje centenária
Academia Pernambucana de Letras.
É famoso o fato ocorrido após a tentativa de assassinato do nosso último
capitão-general, Luiz do Rego, ocorrida na Rua da Imperatriz, durante o
início do século passado. Para facilitar o reconhecimento do cadáver do
autor do atentado, seu corpo, sentado e amarrado a uma cadeira, ficou,
de uma maneira sacrílega e bárbara, exposto, durante vários dias, na Rua
Nova, ao lado da Matriz de Santo Antônio. Posteriormente, ele foi
identificado como o de João do Souto Maior, que planejara aquele crime
para se vingar de atos cometidos, pelo governador, contra pessoas de sua
família.
A maior tragédia, porém, ocorrida na então Rua Barão da Vitória foi, sem
dúvida, pela sua repercussão política, o assassinato de João Pessoa. O
fato é por demais conhecido. A 26 de julho de 1930, depois de visitar um
amigo (o juiz Cunha Melo, internado no Hospital do Centenário) e de ter
almoçado no Restaurante Leite, já à tardinha, por volta das 17 horas, o
presidente da Paraíba, João Pessoa, encontrava-se, acompanhado de
Agamenon Magalhães, de Caio de Lima Cavalcanti e do comerciante Alfredo
Dias, tomando chá na Confeitaria Glória, localizada no nº 318, esquina
da Rua da Palma (na época denominada Rua de Santo Amaro). Entrando, de
surpresa, no salão e postando-se atrás de Agamenon, uma pessoa, que logo
se identificou (”Eu sou João Dantas”), desfechou dois tiros em João
Pessoa, deixando-o estendido no chão. Levado, às pressas, para a
farmácia vizinha, em poucos minutos o político paraibano morreu, numa
tragédia que abalou o País inteiro. Embora não tivesse conotações
políticas, sendo fruto de ódios pessoais entre o criminoso e a vítima, o
crime veio aumentar o clima de revolta contra o Governo Federal e seria
um dos estopins a deflagrar o movimento revolucionário já em
efervescência e que, finalmente, viria às ruas, em Porto Alegre, a 3 de
outubro daquele mesmo ano.
Na parede lateral do prédio de nº 318 da Rua Nova, onde funcionou a
Confeitaria Glória, há uma placa de bronze, com os seguintes dizeres:
Neste prédio tombou, assassinado em 26/07/1930, o grande brasileiro Dr.
João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, presidente do Estado da Paraíba -
Homenagem do Governo e do Povo de Pernambuco - Em 29/07/1931.
*Rostand Paraíso, médico-cardiologista, é da Academia Pernambucana de Letras.
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